Vários estudos comprovam as reclamações dos
produtores da APA do Gelado, realizados por pesquisadores da Sespa/Lacen-PA, Universidade
Federal do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia e o Museu Paraense
Emílio Goeldi, comprovando que as atividades antrópicas de exploração mineral
na Serra dos Carajás tem causado severos impactos ambientais à APA do Igarapé
Gelado, por receber um aporte de rejeitos minerais contaminando a cabeceira do
Igarapé.
Estudiosos capturaram peixes da espécie
Leporinuselongatus (Piau) e Eugerresbrasilianus (Caratinga), provenientes do
Igarapé Gelado, respectivamente em número de dois e quatro espécimes, sendo
sacrificados após dessensibilização em água fria e imediatamente feito
biometria, pesagem, identificação e dissecação para coleta de fígado e guelras.
Em seguida foram preservados em formol tamponado a 10% e encaminhados aos
Laboratórios de Toxicologia (Toxan) e Laboratório de Patologia da Universidade
Federal Rural da Amazônia (Ufra), sendo separados em amostras, registrados e
devidamente processados através de técnicas histológicas clássicas e coradas
por HE (hematoxilina-Eosina), sendo avaliados por microscopia óptica,
apresentando que os elementos presentes no Igarapé Gelado, inclusive os metais
pesados, estão sendo absorvidos pelos peixes e que os níveis de concentração em
alguns elementos podem causar danos a saúde da população que consome estas
espécies.
Até o ano de 2002 a então Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD), hoje Vale explorou a exaurida reserva de ouro do Igarapé Bahia,
utilizando soda cáustica e cianeto para separação do minério da rocha primária,
substâncias químicas que estão espalhadas região.
Hoje as atividades de exploração mineral são as
lavras de manganês, ferro e cobre, todas as áreas com seus rejeitos depositados
em barragens de contenção, nas proximidades das minas, mas também próximas das
áreas de trabalhadores rurais. E para contenção do rejeito oriundo da
exploração do minério de ferro de Carajás foi construída uma barragem no
Igarapé Gelado, que vem causando problemas, principalmente para os agricultores
da APA do Gelado.
Ainda hoje os moradores da APA relembram quando no
ano de 1992, a barragem transbordou e inundou a área de alguns agricultores,
causando grandes prejuízos aos produtores rurais, que tiveram inundadas suas áreas
com plantio de hortaliças (abóbora, tomate, pimentão, quiabo, pepino, melancia,
jiló, couve e repolho), milho e feijão e açaizais e outros prejuízos materiais
e ambientais.
A moradora da APA, Ana Cristina, 38 anos, detalha
que vive na comunidade desde os 15 anos e também perdeu as esperanças de
qualidade de vida e auto-sustentabilidade. “Os responsáveis pela APA disseram
que a escola seria um meio de capacitar e manter nossos filhos conosco, mas só
tem até a 8ª, série, por isso eles foram morar na cidade e hoje vivo só com o
meu marido”, Comenta, explicando que antes eles cultivavam banana e exportavam,
mas hoje sobrevivem da criação de peixes, mas a renda é pouca, em média de
R$800,00 por falta de incentivos financeiros e técnicos.
“Aqui não podemos trabalhar, alguns receberam
incentivos do programa ‘Mata Viva’, mas a gente nada. Assistência técnica aqui
somente no papel, na imprensa e conversas nas reuniões. Temos água contaminada,
mas a Vale não deixa transparecer, quando eles construíram uma estrada perdemos
10 mil peixes contaminados. Aqui é um paraíso pra Vale, quando eles vêm pra
Estação Conhecimento eles trazem até a água deles, pois a nossa é contaminada.
Eles não trazem os filhos deles, pois sabem que de paraíso aqui não tem nada”,
conclui Cristina.
“Prestamos serviços ambientais gratuitos,
preservamos as matas nativas das nossas terras e não podemos trabalhar nelas, o
pouco espaço que temos não temos condições de beneficiar, os projetos não
passam de propagandas e pra complicar estamos numa área de águas superficiais e
lençóis freáticos contaminada pela Vale. Até meus peixes morreram contaminados,
estamos clamando por socorro, que se não vir do Brasil , que tem um governo
cheio de corruptos, que outras entidades mundiais, vejam nossa realidade e nos
salvem”, protesta Chico Doido.
Chico Doido da APA alerta que já foram realizadas
várias análise comprovando que as atividades da Vale estão contaminando o
Igarapé Gelado e nenhuma autoridade toma atitude, esperando que o impacto
ambiental seja devastador para que se resolva a situação. “Eu tenho um exemplo
disso, no ano passado eu perdi 10 mil peixes do meu tanque, tudo contaminado, pois
fui captar a água do canal para o meu tanque e perdi o pão da minha família”, conclui
Chico, reforçando que os funcionários do Ibama e do Icmbio perseguem os
moradores da APA e fecham os olhos para as irregularidades da Vale. (Fontes: http://www.ibama.gov.br ,http://www.ambientebrasil.com.br, www.cprm.gov.br , Amélia@ufpa.br e www.ogazeta.blogspot.com.)
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